"Se você não tem problemas com a sua, levante as mãos para o céu e pare agora mesmo de reclamar da vida. O que são algumas dívidas para pagar, um celular sempre sem bateria, um final de semana chuvoso ? Chatices, mas dá-se um jeito. Nela não. Nela não dá-se um jeito. Para eliminá-la, prometemos cortar bebidas alcoólicas, prometemos fazer mil abdominais por dia, mas ela não acusa o golpe, segue com uma saliência irritante. A gente caminha, corre, sobe escada, desce escada, vibra quando nosso intestino está bem regulado, cumprindo suas funções à perfeição, mas ela não se faz de rogada, mantém-se firme onde está. "Mantém-se firme" é força de expressão. Ela é tudo, menos firme. Você sabe de quem estou falando.
Ela é uma praga masculina e feminina. Os homens também sofrem, mas aprendem a conviver com ela: entregam os pontos e vão em frente, encarando a situação com uma contingência do destino. As mulheres, não. Mulheres são guerreiras, lutam com todas as armas que têm. Algumas ficam sem respirar para encolhê-la, chegam a ficar azuis. Outras vão para a mesa de cirurgia e ordenam que o médico sugue a desgraçada com umbigo e tudo. Mas passa-se um tempo e ela volta, a desaforada sempre volta.
Quem não tem a sua ? Eu conto quem: umas poucas sortudas com menos de quinze anos. Umas poucas malucas que acordam, almoçam e jantam na academia. Algumas mais malucas ainda que não almoçam nem jantam. As que nasceram com crédito pré-aprovado com Deus. E aquelas que nunca engravidaram, lógico.
As que ignoram totalmente sobre o que estou falando são poucas, não lotariam uma sala de cinema. Já as que sabem muito bem quem é a protagonista desta crônica (pois estão por toda parte). Batas disfarçam, vestidinhos disfarçam, biquínis colocam tudo a perder. Nem todas a possuem enorme. Cruzes, não. Às vezes é apenas uma protuberância, uma coisinha de nada, na horizontal nem se repara. Aliás mulheres acordam mais bem-humoradas do que os homens porque de manhã cedo somos todas magras. Todas tábuas. Todas retas. Passam-se as primeiras horas, no entanto, a lei da gravidade surge para dar bom dia. Lá se vai nosso humor.
Falam muito de celulite. Falam de seios, de traseiros, de rugas, de pés grandes, de falta de cintura, de caspa de tornozelos grossos, de orelhas de abano, de narizes desproporcionais, de ombros caídos, de muita coisa caída. Temos uma possibilidade infinita de defeitos. Mas ela é que nos tira do prumo. Ela é que compromete nossa silhueta. Ela é que arrasa com nossa elegância. ela. Nem ouso pronunciar seu nome. Você sabe bem quem. Se não sabe, sorte sua: é porque não tem."
A crônica acima é de 21 de janeiro de 2007 e foi escrita pela maravilhosa Martha Medeiros.
Estou lendo este livro (recheado de crônicas boas, inteligentes, engraçadas, ótimas) e, resolvi compartilhar esta, pois acredito que 99.9% de nós mulheres gostariam que "ELA" não existisse.
7 comentários:
Tem toda razão, "ela" é mesmo uma praga, fica mais linda ainda com uma cicatriz de cesariana, kkkkk, bjs e ótima semana!!!
Sou louca para ler os livros da Martha, mas só as crônicas que já li amei! Essa é ótima também!
Beijos
Adriana
Mana, juro que fiquei uns bons minutos pra entender quem seria 'ela' rsrsrs
Eu, hein...preciso parar de pintar o cabelo de loiro rsrsrs
bjssss
Ahh eu gostaria muito de não saber do que está falando, ahahah, mas sei bem :(
Bjus e um ótimo início de semana!
Rafaela
www.rafaelando.com
Adorei!! ELA é realmente terrível...
Querida, passa lá no blog. Está rolando a nova Mostra Arte em Foco. Participe!
Bjos, Mari.
Mana,
Coincidentemente, hoje, postei uma crônica da Martha Medeiros, ela é ótima, né?
Fala sério, mas você é pau pra toda obra, hein?
Meu Deus, quanta coisa linda! Aos poucos, vou olhando tudo com calma, viu?
Gostei tanto do seu blog que já vou colocá-lo na minha lista de favoritos!
Tenha um ótimo finde
Bjksss
Confesso que não li a crônica inteira, mas assim como você eu estou amando o Livro da Martha Medeiros, é minha primeira experiencia com essa autora, mas de fato estou amando muito o livro.
Obrigada pelo comentário super carinhoso, fiquei muito feliz.
Beijos querida.
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